June 3, 2008


Prunus Triloba Plena



Tudo o que sinto, em minha volta, se torna sinónimo
de ser vivo. Em toda a forma, há vida e movimento,
compreensão e projecto, percepção e sensibilidade.
(...)
Mas parece-me que esta pedra, aquele gerânio sobre o parapeito,
Prunus Triloba Plena no jardim, e o riacho que corre
debaixo desta casa, não calcularam integralmente as consequências
do seu projecto. Não se aperceberam nunca que
uma vez chegaria o momento em que o homem os excluiria
da espécie única dos vivos, tornando-se o real comum
ainda mais opaco. Ouço Hamman perguntar-me com insistência
como foi possível tornar-se morta a língua da
Natureza. Essa língua morreu porque nós já não falávamos
com Ela, ou acontecera que a própria Natureza deixou
de falar? Quando é que o homem, de forma mais capaz,
se julgou forma única e exclusiva?.
Foi um momento funesto, porque na dobra não
reside só o segredo do nosso destino, das forças que nos
reduzem a pó sem nosso consentimento; aí reside igualmente
o segredo da nossa origem, das forças que nos puseram
em movimento, e nos dotaram para a acção. O homem
foi lançado para sonhar esse destino e continuar
o sonho da espécie viva.
Lansol, Finita, pp.150-2